Biografia

Quando surgiu, há pouco mais de duas décadas, o Bossacucanova causou furor e interesse ao apresentar uma criativa e original mistura de elementos da música eletrônica e da bossa nova. Desde então, o trio formado por Alex Moreira, Marcio Menescal e o DJ Marcelinho da Lua lançou seis álbuns e atraiu a atenção do público e dos críticos. O reconhecimento internacional também veio, e, além dos CDs terem sidos lançados no Japão e na Europa com uma turnê que percorreu ambos os lugares, a banda foi indicada ao Grammy Latino em 2002, por conta do álbum “Brasilidade” (2001). Na ocasião, o Bossacucanova havia contado com a colaboração de Roberto Menescal, que participou inteiramente das composições e repete a dose no novo álbum que lança junto ao grupo.

Desse modo, chega às lojas e aos aplicativos de música, pela gravadora Deck, o disco “Bossa Got The Blues”. “Primeiramente a gente quis criar algo menos rock e bossa e mais blues. Fazendo jus ao título, o blues roubou um pouco da bossa. A criatividade, também, do que o Bossacucanova criou na parte rítmica é que me levou a compor dessa maneira, fazendo coisas bem diferentes do que faço normalmente”, explicou Roberto Menescal, sobre a gênese do trabalho.

Gravado ao longo de 2018 em diferentes estúdios do Rio de Janeiro, o álbum foi inteiramente composto por Menescal, seu filho Marcio, Alex e Marcelinho; a única exceção dentre as 10 faixas ficou por conta de Blues Bossa (Roberto Menescal/J.C Costa Netto). O trio ainda cuidou de toda parte de direção artística, produção, gravação e programação do álbum. Todas as faixas também foram mixadas pelo Bossacucanova no estúdio Mola, com exceção de “1937”. Abertura do álbum e mixada pelo premiado produtor Moogie Canazio, essa música foi escolhida para ser o primeiro single do registro, e conta com um videoclipe disponível no YouTube. Seu título, inclusive, faz referência ao ano de nascimento de Roberto Menescal, que, em mais de 80 anos de vida e seis décadas de carreira, consolidou-se como uma das eminências da bossa nova e ajudou a fazer a ponte entre o gênero e as novidades tecnológicas dos beats e samples. Polivalente, Menescal ainda se responsabilizou por todas as trilhas de guitarra do álbum e participou dos arranjos de base. Dentre as referências e homenagens, há também a faixa “Laudir’s Theme”, dedicada ao percussionista Laudir de Oliveira que, além de ter integrado a banda de rock Chicago, também gravou com o Bossa no passado.

“Esse álbum que gravamos agora tem algo de novo, que é ser inteiramente instrumental. A ideia original veio deles, a inspiração das melodias veio de mim e eles completaram o trabalho de uma maneira muito legal”, explicou Menescal sobre sua relação com o trio. Com vários convidados especiais, “Bossa Got The Blues” torna-se ainda mais especial por se tratar de um dos últimos trabalhos de Paulinho Trompete, que faleceu no início de agosto, após assinar os arranjos de “1937”, “Train To Ipanema”, “Bossa Got The Blues” e “Vou Nessa”. Além de arranjador, Paulinho foi responsável por tocar trombone, trompete e fluguelhorn no disco. Alguns dos outros notáveis que contribuíram para a riqueza de detalhes e sons do álbum foram Carlos Malta (pícolo, pífano e flauta baixo em dó), Sidinho e Ian Moreira (percussão), Flavio Guimarães (gaita), Jota Moraes (vibrafone), Leo Gandelman (metais, barítono e tenor) e o bloco carnavalesco Rio Maracatu, que trouxe um pouco da música nordestina para o álbum.

Moderna desde seu surgimento e sempre aberta às experimentações, a bossa nova ganha peso e torna-se dançante — com samples, instrumentos orgânicos sem agrotóxicos, guitarras, teclados analógicos e muito dub — no novo disco. O blues se junta à mistura como resultado, principalmente, da influência de Roberto Menescal, que aprecia e entende profundamente do ritmo americano e suas vertentes. Um carro-chefe da música brasileira no exterior, a bossa alinha-se ao blues quase que trazendo de volta à sua terra um pouco do que absorveu em sua circulação pelo mundo.

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