Biografia

Aline Muniz e seu repertório de histórias

Ela tinha dez anos quando fazia aulas no teatro escola Célia Helena, mas se empolgava mesmo quando a música aparecia. Atenta, a mãe cedeu aos pedidos da menina e Aline Muniz ainda criança começou a estudar canto, violão, piano. Os caderninhos de poesia sempre a acompanharam, diários, rabiscos, papeizinhos pela bolsa, lampejos de inspiração que hoje ela grava no celular.

No seu trabalho podemos ouvir uma mulher romântica que cresceu perseguindo seus sonhos e com o privilégio e a sorte de poder vivê-los. Conto de fadas? Destino? Eu diria também merecimento. O que está aí é resultado de uma determinação. A menina já está no seu segundo cd, gravou com músicos de altíssimo calibre e já tem na sua história pelo menos um sucesso no rádio, a canção “Básica”, de Tatiana Cobbett.

Aline também já teve aquela fundamental experiência de cantar na noite como uma de suas musas, Dolores Duran. O mito caiu no seu colo por acaso, a pedidos da platéia. Aline acabou gravando lindamente “O Negócio é Amar”, parceria de Dolores com Carlos Lyra, simplesmente porque se apaixonou pela letra, diz que tem tudo a ver com ela. Gravou com Amilton Godoy do Zimbo Trio e, esperta, lançou como bônus track do seu disco de estréia.

Aline busca coerência no que faz e foi pra Nova Iorque buscar referências pro novo trabalho. Trouxe de lá a participação de músicos muito especiais: o baixista do Santana, Benny Rietveld; Robert de Pietro, o baterista de Norah Jones; e Etienne Stadwijk, tecladista de Richard Bonna. Conheceu Speranza Spalding, uma jovem contra-baixista, cantora e compositora que faz música popular com acento jazzístico e erudito, admirou sua liberdade. Assistiu Sting num concerto pop com orquestra e fez essa mesma mistura no seu disco arregimentando cordas ao lado de guitarras – a canção “Penso em Você” tem um lindo arranjo de Lua Lafaiette. Nessa viagem também descobriu que o romantismo, a mensagem de amor, sempre esteve presente e, meio sem querer, virou seu tema no segundo cd “Onde Tudo Faz Sentido”. Do amor cotidiano de “Um Dia”, ao amor passional de “Tudo Passa”.

Marco de Vita, tecladista, produtor e arranjador do disco ao lado de Lua Lafaiette, não foi só inspiração pra todo esse amor que se expressa no disco, foi parceiro e incentivador. Ele foi buscar nas anotações de Aline as letras das canções. E ela segue garimpando palavras, anotando o que vê pra montar seu repertório de histórias. Ao mesmo tempo quer dar vazão aos impulsos, às vontades que vem de dentro, de contar, compartilhar, dizer o que importa.

O gosto pela leitura e pelas palavras herdou da mãe, a atriz Angelina Muniz e essa aproximação é fundamental no oficio de cantar. Um bom intérprete escolhe pelas letras, Aline intuitivamente sabe disso e me diz que ainda quer aprender mais sobre rimas e poesia.

E se no primeiro disco aparecia Dolores Duran, agora temos Moraes Moreira e Fausto Nilo com a deliciosa “Bloco do Prazer” com surpreendente acento tangueiro; Guilherme Arantes com seu pop rock alto astral em “Deixa Chover”; e Herbert Vianna e sua “Mensagem de Amor” num delicado arranjo com bandolim, surdo e cuíca. O fio da melhor tradição, a reverência os mestres. Adoro isso.

Aline tem uma voz delicada, afinada, tem sutileza na interpretação, não se apega à gêneros e essas são as peças que ela quer mostrar. Os pedaços de sua história impressos na pele como para confirmar que é tudo verdade. Eu ouço com prazer e acredito. Tudo aqui faz sentido.

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