Biografia
A Trajetória de Duas Vozes
Sapesal, uma pequena cidade do interior de São Paulo, abrigava Bertholdo e Maria, um casal de artesãos, ele alfaiate, ela costureira. Durante os serões para a entrega da costura, cantavam para alegrar a vida, e, aos domingos e feriados, dividiam sua alegria com toda a cidade, organizando festas e serestas. Viravam a noite em rodas de violeiros e cantadores, fazendo o povo feliz.
Foi nesse ambiente musical que nasceu Mary Zuil, uma menina loira de olhos azuis e, em seguida, Marilene, que observava tudo caladinha, mas de uma esperteza sem igual. Aos 5 anos Mary, de tanto ouvir os cantores, começou seus primeiros “ensaios”. Tinha uma voz privilegiada, entusiasmando os habitantes da pequena cidade, que insistiam para que Bertholdo a mostrasse como presente, alegrando os que a ouviam.
Graças a tanta insistência, ele ensaiava a filha e em 1946, com 6 anos, Mary começou a cantar músicas de sucesso, aos domingos, na Rádio Club Marconi, de Paraguaçu Paulista, em um programa apresentado por Sidney Caldini.
Um dia, quando ensaiava para o programa, Marilene, sem que ninguém tivesse planejado, entrou cantando em dueto. Mais uma vez o pessoal da cidade entra em cena e incentiva seu Bertholdo a apresentá-las como dupla. Assim começou a carreira de Mary e Marilene: cantando na mesma rádio Club, em horário nobre e já fazendo parte de um elenco de profissionais. Tinham apenas 7 e 5 anos, respectivamente, e o nome artístico de Irmãs Galvão.
Por causa do grande sucesso, a família muda-se para uma cidade maior: Assis. Contratadas pela Rádio Difusora, Assis foi um trampolim para a Rádio Cultura de Maringá, no Paraná, em que tiveram um programa exclusivo. Nos shows que a emissora promovia com gente famosa de São Paulo sempre mostravam a dupla, para ser conhecida. Como costumava acontecer, incentivavam o pai a levá-las para São Paulo, pois lá estaria a oportunidade de gravarem um disco.
Mais uma vez, com a cabeça cheia de sonhos, ele vende tudo e migra para São Paulo, investindo na carreira das filhas. Lá chegando, munido de uma carta de recomendação do Dr. Miguel Leuzzi, dono de uma Rede de Emissoras, vão até a Rádio Piratininga.
O diretor, quando viu duas menininhas, não quis ouvi-las, mas Bertholdo, confiando no talendo das filhas, inscreveu-as num programa de calouros da emissora chamado Torre de Babel, sucesso apresentado por Salomão Esper. Elas não puderam concorrer ao prêmio porque o programa era de adultos, porém, comovido com as pequeninas, Salomão perguntou se apenas queriam cantar. “Foi isso que viemos fazer”, responderam. “Então cantem”, disse ele, e a dupla não conseguiu cantar apenas uma música. Vieram outra, outra e mais outras, encantando a todos, inclusive ao próprio diretor, que não as recebera. Tinham então 12 e 10 anos, e, a partir daí, foram contratadas como profissionais.
Quando a Rádio Nacional, hoje Globo, as ouviu, cobriu a oferta da Piratininga e contratou-as para um programa de auditório. Em seguida, veio a contratação pela Rádio Bandeirantes, para um programa comandado pelo Comendador Biguá, que se apaixonou pela dupla. Era o famoso Na Serra da Mantiqueira. Na mesma época apresentaram-se no Brasil Caboclo, comandado pelo Capitão Barduíno, campeão de audiência no Brasil. Recebiam correspondência de todo o país.
Um dia, ouvindo o programa, Diogo Mulero, o “Palmeira”, diretor artístico da RCA Victor, descobriu-as. Saiu de casa bem cedo, procurou-as, apresentou-se e ofereceu-lhes uma gravação de disco, levando-as para o Rio de Janeiro, onde gravaram o primeiro 78 rotações. Em seguida, vieram os compactos, LPs e atualmente os CDs. Ficaram na RCA por mais de 20 anos.
Fizeram shows em todo o Brasil, ganharam o Troféu Oceania da UASP (União dos Artistas Sertanejos Paulistas), prêmios de interpretação em festivais, Disco de Ouro com a música No Calor dos Teus Abraços e o Prêmio Sharp com Lembranças, como o disco do ano, produzido por Paulo de Betio e Mário Campanha. Em 2002 receberam a Medalha de Ouro do Grammy Latino de Los Angeles com o CD Nóis e a Viola, na categoria Melhor Álbum de Música Regional ou Raiz, e também o Prêmio Caras de Música, como a melhor dupla, além de muitos outros.
Cantaram em circo, pois na época a música sertaneja era muito discriminada, mas, segundo elas, “feliz aquele que teve contato com o circo, onde se sente a emoção no seu estado mais puro”. Raramente eram convidadas para clubes famosos, que abriam exceção apenas durante as festas juninas. Então, contrariando o que se esperava delas, vestiam suas melhores roupas, ditavam moda e cantavam o melhor do nosso sertanejo, para mudar o conceito de “não-chique”.
Eram convictas de que “o caipira tem categoria, tem sua história e não se veste em andrajos, pois respeita seus vizinhos e para as festas veste sua melhor fatiota, fica bonito de se ver”. Mostravam que isso é um conceito deteriorado, que elas empenharam uma vida para mudar.
Depois, com o advento da televisão, mais dificuldades: o veículo não dava abertura para a música sertaneja. Enfrentaram a batalha, pisaram forte e mostraram o que era a música caipira, até que Geraldo Meirelles estreou na TV Cultura o programa Canta Viola, exclusivamente sertanejo.
Lá cantavam elas, Cascatinha e Inhana, Raul Torres e Florêncio, Nhá Barbina, Cinco Sertanejos e a nata da música raiz, que ficou ao lado do apresentador e se empelhou em mostrar tudo que sabia.
Contrariando as expectativas, a atração obteve uma grande audiência e permaneceu muito tempo em cartaz.
Depois dele vieram outros programas como Viola Minha Viola, a princípio conduzido por Moraes Sarmento e Nonô Basílio e depois por Inezita Barroso, que mostra o melhor da música raiz e está até hoje na TV Cultura, com grande audiência; Rolando Boldrin, substituído por Lima Duarte, na TV Globo, com o Som Brasil; Marcelo Costa com o Especial Sertanejo, na TV Record. O SBT também excursionou pelas trilhas do sertanejo, com o programa Musicamp, comandado por Sérgio Chapelain e Cristina Rocha, por onde passou o melhor da música raiz. E as Irmãs Galvão sempre foram convidadas para o primeiro programa. Foi a partir daí que a música sertaneja, a raiz, a catira e o pagode caipira ficaram fazendo parte do cancioneiro brasileiro, sendo até mais executada que a música popular.
No Estádio Municipal do Pacaembu, foi comemorado o cinquentenário da música sertaneja, e nele desfilou todas as duplas, em um espetáculo maravilhoso, com vários apresentadores, entre eles Zé Bétio, José Russo, Carlito Martins e Geraldo Meirelles.
Em 1981 o Maestro-Arranjador Mário Campanha entra em cena e começa a produzir os discos das Irmãs Galvão. Revolucionam a música sertaneja, ganham o Disco de Ouro com a lambada No Calor dos Teus Abraços e continuam a gravar, fazer shows, passando a se apresentar na TV como As Galvão, conhecidas e respeitadas no Brasil inteiro e com músicas tocadas em Portugal, no Canadá e na Suíça.
Mesmo depois de tantas experiências, confessam ainda sentir as pernas bambas e frio no estômago antes de entrar no palco, pois nunca têm certeza do que o público espera delas. Sabem da responsabilidade de dar o melhor de si. Nunca deixaram de cantar, não importando o número de pessoas na platéia, pois o respeito a quem foi assisti-las é o que conta. Iniciada a primeira música, já intuem o que o público quer e então é ele que passa a ser o diretor musical do show. É conversando com o público que elas se emocionam; é ouvindo suas histórias ou a história de como alguma música cantada por elas foi palco para seus romances; ou da paixão que algum ente querido lhes dedica.
O que lhes falta? “Papai na primeira fila” (embora ele esteja em suas memórias), “ver o nosso povo feliz” e concretizar o sonho de Dª Maria de vê-las totalmente consagradas como Ícones da Música Sertaneja. É certo que muitos já as consideram As Vozes do Século – título dado pelo comunicador da Rádio Tupi AM Toni Gomide, que apresenta o programa Abrindo o Baú, no quado intitulado As Vozes do Século, “As Galvão”.
O que as entristece? Quando nas escolas mostram o caipira vestido em andrajos e americanizam as festas juninas, que deveriam ser tipicamente brasileiras, com quadrilhas, etc. “Isto faz com que nós, brasileiros, comecemos a perder nossa identidade caipira”, dizem.
Qual é o lema d’As Galvão?: “Através do amor modificaremos o mundo”.
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